A COMUNICAÇÃO DE PREFEITOS DURANTE DESASTRES: O CASO DO RIO GRANDE DO SUL NA CRISE CLIMÁTICA DE 2024

Publicado em 30/06/2025 - ISSN: 2594-5688

Título do Trabalho
A COMUNICAÇÃO DE PREFEITOS DURANTE DESASTRES: O CASO DO RIO GRANDE DO SUL NA CRISE CLIMÁTICA DE 2024
Autores
  • Lethícia Freyer
  • Daniel Moraes Pinheiro
Modalidade
ARTIGO
Área temática
GT04 - Gestão de Cidades Resilientes e Sustentáveis
Data de Publicação
30/06/2025
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.ebap.sbap.org.br/anais/encontro-brasileiro-administracao-publica/1063032-a-comunicacao-de-prefeitos-durante-desastres--o-caso-do-rio-grande-do-sul-na-crise-climatica-de-2024
ISSN
2594-5688
Palavras-Chave
gestão de riscos e desastres, redes sociais, gestão pública, comunicação, crise ambiental
Resumo
O estudo busca analisar o processo de comunicação de prefeitos de cidades gaúchas atingidas pelo desastre climático em 2024, com as chuvas no fim de abril e início de maio. O objetivo é compreender como os gestores públicos utilizam mídias sociais e outros meios de comunicação para informar a população, coordenar ações de resposta e fortalecer a relação com a comunidade durante o desastre além de aproximar o gestor público do cidadão. A comunicação é um momento crucial na gestão de crises. Além disso, a redução de riscos e desastres (RRD) é uma estratégia fundamental na gestão pública, e gestores públicos devem ser os agentes de confiança da população em momentos de crise. Pretende-se com este trabalho contribuir, a partir da análise da comunicação destes gestores por meio das mídias sociais e da interação destas com os meios tradicionais de comunicação, para a reflexão acerca da utilização dos mecanismos de comunicação durante o desastre em 2024 no Rio Grande do Sul, e como este aprendizado pode contribuir em situações semelhantes. Foi visível o impacto da tragédia climática com as fortes chuvas em maio de 2024 no Estado do Rio Grande do Sul, de modo que, dos 497 municípios gaúchos, 471 foram atingidos, ou seja, 94,77% do total de cidades sofreram e continuam a sofrer com os danos causados por essa catástrofe. É preciso considerar que, além da comunicação da emergência, o processo posterior consiste na reparação – física, estrutural e mental - dos danos causados nas localidades. O Estado do Rio Grande do Sul vive, desde maio de 2024, um processo de entendimento e aceitação em relação ao desastre provocado pelas condições climáticas extremas. Como as fortes chuvas provocaram estragos em, praticamente, todo o Estado, a dimensão real dos prejuízos deverá levar anos para ser reconhecida e pautada, o que se dará, espera-se, ao fim do processo de recuperação. Conforme explica Victor (2015) a comunicação de riscos é uma das principais ferramentas da RRD, pois utilizando meios e canais adequados, linguagem adaptada às audiências específicas, pode gerar inclusive, a redução do medo e da ansiedade das pessoas. Além disso, a comunicação também é o meio de orientação, instrução e até mesmo, de relacionamento com as pessoas. É preciso, portanto, preparo dos gestores e uma visão de comunicação que vá além das fronteiras de governos. Como lembra Alexander (2002), em situações de resposta a resgate, as autoridades devem estar integradas. Aliás, se os agentes públicos são o mecanismo de confiança para o cidadão, especialmente em situações de crise, é preciso considerar que a mobilização integrada, especialmente com os burocratas de nível de rua, torna-se premente, já que é na localidade que se encontram aqueles que conhecem, diretamente, os problemas da população, suas vulnerabilidades e até mesmo suas capacidades, o que, de fato, permitirá uma resposta mais efetiva (Tierney; Lindell; Perry, 2001). A pesquisa, de natureza qualitativa, envolve a análise de conteúdo das publicações dos prefeitos em suas redes sociais, a partir da definição de categorias com base no arcabouço teórico, observando-se as formas de comunicação, a interação com a imprensa, os modelos utilizados e as mensagens passadas à população em geral. Foram analisadas as mensagens emitidas durante e após o desastre, disponíveis publicamente, considerando aspectos como a frequência das publicações, o tipo de conteúdo, a linguagem utilizada e a interação com os seguidores. Os resultados demonstram que as mídias sociais desempenharam um papel crucial na comunicação durante a crise, permitindo aos prefeitos alcançarem um grande número de pessoas de forma rápida e eficiente. No entanto, foram identificados desafios como a desinformação, a pressão por respostas imediatas e a necessidade de adaptar a linguagem para diferentes públicos, além do apelo populista à exposição da imagem pessoal. Além disso, a pesquisa evidenciou a importância da coordenação entre os diferentes níveis de governo e a necessidade de investimentos em infraestrutura tecnológica para garantir a comunicação em emergências. A análise das mensagens permitiu identificar diferentes estratégias de comunicação utilizadas pelos prefeitos, como a divulgação de informações sobre a situação do desastre, a orientação da população sobre medidas de segurança, a mobilização de recursos e a promoção da solidariedade. Também foram observadas diferenças significativas entre os municípios, em termos da frequência e da qualidade das informações divulgadas. Observou-se que os prefeitos das cidades atingidas estavam na linha de frente, muitas vezes agindo como o elo mais direto entre os cidadãos e as ações de emergência. Alguns líderes se destacaram pela transparência e pela capacidade de mobilizar suas comunidades, enquanto outros enfrentaram críticas por dificuldades de coordenação e lentidão na comunicação, ou pelo excesso de exposição da imagem pessoal. Em cidades menores ou mais isoladas, a comunicação foi limitada pela falta de infraestrutura ou pela ausência de um plano emergencial claro. A dependência de mídias sociais, claramente, nem sempre é eficaz, especialmente em áreas onde o acesso à internet é comprometido. Isso evidencia a necessidade de estratégias de comunicação com meios alternativos e mais abrangentes, além da integração entre diversos canais. Em relação ao governo estadual, havia o desafio de centralizar as informações e coordenar ações em uma crise que impactou regiões distintas de maneira severa. Foi possível identificar a rapidez da Secretaria de Segurança Pública do estado ao emitir alertas meteorológicos e ao coordenar ações de evacuação em áreas de risco. Além disso, o uso do aplicativo Alerta RS e mensagens de texto em massa foi fundamental para alcançar a população de forma ampla e eficiente. O governador também utilizou de coletivas de imprensa para atualizar a população sobre os esforços de resgate, reconstrução e solicitação de apoio federal. A parceria com a Defesa Civil estadual foi outro aspecto positivo, garantindo que as mensagens fossem unificadas e respaldadas por dados técnicos. Por outro lado, também foram enfrentados desafios, onde apesar do esforço, houve críticas quanto a falta de uma comunicação mais alinhada entre os diferentes níveis de governo. Alguns prefeitos relataram dificuldades em obter orientações claras e recursos imediatos do governo do estado, o que gerou atrasos em ações críticas. A sobrecarga dos sistemas de alerta e canais de suporte revelou a necessidade de investimento em tecnologia e treinamento para situações de emergência. As mídias sociais foram uma ferramenta indispensável durante o desastre, permitindo que líderes municipais, estaduais e organizações humanitárias chegassem diretamente ao público, mas também representaram um desafio devido à disseminação de desinformação, causando o desestímulo das pessoas que estavam na linha de frente, especialmente aquelas que estavam de forma voluntária e intensa. Mensagens falsas sobre desvios de doações e riscos climáticos exagerados circularam amplamente, exigindo respostas rápidas das autoridades para evitar o pânico. De forma positiva, pelo uso de hashtags de solidariedade viralizaram, criando um senso de solidariedade nacional e ampliando o alcance das campanhas de arrecadação. O desastre de 2024 no Rio Grande do Sul, portanto, destacou a importância de uma comunicação estruturada e proativa em todos os níveis de governo. É possível citar algumas lições aprendidas que o governo do estado do Rio Grande do Sul, assim como governantes de forma geral, deve atentar-se: (a) Planejamento Prévio: A criação de planos de comunicação de emergência que consideram múltiplos canais de disseminação, desde mensagens SMS até rádios comunitárias, é fundamental. (b) Capacitação de Líderes Locais: Prefeitos e suas equipes precisam ser treinados para lidar com a comunicação em crises, especialmente em cenários de desastres naturais. (c) Integração entre Níveis de Governo: A coordenação entre municípios, estado e governo federal deve ser aprimorada, com fluxos de informação claros e ágeis. (d) Combate à Desinformação: Investir em estratégias para combater notícias falsas durante crises é essencial, incluindo a parceria com plataformas de redes sociais para sinalizar informações verificadas. (e) Fortalecimento da Infraestrutura de Comunicação: Garantir que áreas rurais e regiões vulneráveis tenham acesso a meios confiáveis de comunicação que possam salvar vidas em eventos futuros. De fato, a resposta do Rio Grande do Sul ao desastre de 2024 mostrou que a comunicação eficaz pode ser uma das ferramentas mais poderosas em tempos de crise. Prefeitos e o governo estadual, apesar dos desafios, demonstraram resiliência e compromisso em informar, orientar e mobilizar a população. Embora local, é um problema que deve, inclusive, entrar fortemente na pauta do Governo Federal, especialmente na agenda de prevenção e mitigação dos efeitos climáticos, o que inclui a estruturação de comunicação e educação da população e de agentes públicos para lidar com estas mudanças. A experiência também deixou claro que há espaço para melhorias, principalmente em termos de integração, rapidez e alcance da comunicação. Fortalecer essas áreas não é apenas uma questão de eficiência, mas de preservar vidas e reconstruir comunidades com dignidade e esperança. Os resultados deste estudo contribuem para o avanço do conhecimento sobre a comunicação de risco em situações de desastre, destacando a importância das mídias sociais como ferramentas de gestão pública. Além disso, as descobertas podem auxiliar na formulação de políticas públicas para melhorar a comunicação em futuras crises, como a criação de protocolos de comunicação em emergências, a capacitação de gestores públicos para o uso das mídias sociais e o investimento em infraestrutura tecnológica, além da discussão acerca dos limites éticos do uso dos canais públicos para a promoção de imagem pessoal.
Título do Evento
Encontro Brasileiro de Administração Pública
Cidade do Evento
Ananindeua
Título dos Anais do Evento
Anais do Encontro Brasileiro de Administração Pública
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

FREYER, Lethícia; PINHEIRO, Daniel Moraes. A COMUNICAÇÃO DE PREFEITOS DURANTE DESASTRES: O CASO DO RIO GRANDE DO SUL NA CRISE CLIMÁTICA DE 2024.. In: Anais do Encontro Brasileiro de Administração Pública. Anais...Ananindeua(PA) Unama, 2025. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/encontro-brasileiro-administracao-publica/1063032-A-COMUNICACAO-DE-PREFEITOS-DURANTE-DESASTRES--O-CASO-DO-RIO-GRANDE-DO-SUL-NA-CRISE-CLIMATICA-DE-2024. Acesso em: 04/09/2025

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