“ELE SÓ ESTAVA TENTANDO SER AMIGÁVEL(?)" - DESENGAJAMENTO MORAL E SUA RELAÇÃO COM COMPORTAMENTOS DE ASSÉDIO SEXUAL

Publicado em 30/06/2025 - ISSN: 2594-5688

Título do Trabalho
“ELE SÓ ESTAVA TENTANDO SER AMIGÁVEL(?)" - DESENGAJAMENTO MORAL E SUA RELAÇÃO COM COMPORTAMENTOS DE ASSÉDIO SEXUAL
Autores
  • Renata Freitas da Silva Bozzi
Modalidade
ARTIGO
Área temática
GT05 - Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional no Serviço Público
Data de Publicação
30/06/2025
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.ebap.sbap.org.br/anais/encontro-brasileiro-administracao-publica/1061615-ele-so-estava-tentando-ser-amigavel()---desengajamento-moral-e-sua-relacao-com-comportamentos-de-assedio-sexu
ISSN
2594-5688
Palavras-Chave
Desengajamento moral, assédio sexual, Survey, Vinheta experimental
Resumo
"Por que, em pleno século XXI, as mulheres ainda enfrentam o assédio sexual no local de trabalho?". Essa questão, que parece impensável em uma sociedade moderna, revela um problema preocupante. Dados de uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023) revelam que 46,7% das brasileiras foram vítimas de algum tipo de assédio sexual, o que equivale a 30 milhões de mulheres. Destas, 18,6% (11,9 milhões) relataram ter recebido cantadas ou comentários desrespeitosos no ambiente de trabalho. No âmbito da administração pública, o cenário também é igualmente preocupante. A Controladoria-Geral da União (2023) registrou um aumento de denúncias de assédio sexual em órgãos públicos federais nos últimos anos, passando de oito casos, no ano de 2015, para 266, em 2022, destacando a necessidade urgente de abordagens eficazes para combater o problema. O assédio sexual no ambiente de trabalho é uma realidade alarmante que afeta não apenas a integridade e o bem-estar dos indivíduos, mas também a eficácia e a produtividade das organizações. Reconhecido como um ato de violência (CGU, 2023, Page; Pina; Giner-Sorolla, 2016), tem como a maioria das vítimas mulheres (McEwen; Pullen; Rhodes, 2021, Farencena; Kocourek; Costa, 2021 e Mohammed; Ansah; Apaal, 2024, Senado Federal, 2011, Vara-Horna et. al, 2023) e é frequentemente perpetrado por indivíduos que, apesar de serem geralmente vistos como boas pessoas e cumpridoras da lei, se envolvem em tais atos (Page; Pina; Giner-Sorolla, 2016). Esses dados desvelam a gravidade e a abrangência desta forma de violência no Brasil, indicando que é um problema persistente que requer uma análise aprofundada para ser compreendido e combatido. Além disso, desperta o interesse para se entender os motivos pelos quais as pessoas cometem o assédio, mesmo em ambientes permeados por regulamentações como o da administração pública. O objetivo do trabalho é investigar se o nível de desengajamento moral influencia o julgamento moral dos servidores do INSS em comportamentos de assédio sexual e de que maneira a gravidade do caso de assédio pode moderar essa relação. Tocante ao referencial teórico, este trabalho fundamenta-se em conceitos de assédio sexual amplamente discutidos na literatura acadêmica, proporcionando uma visão abrangente e detalhada sobre o tema. Utiliza a Teoria Social Cognitiva, com foco no constructo de Desengajamento Moral proposto por Albert Bandura. Essa teoria fornece um arcabouço robusto para explorar como os indivíduos racionalizam comportamentos moralmente condenáveis. O desengajamento moral é um mecanismo pelo qual as pessoas desativam suas autossanções morais para justificar comportamentos antiéticos, sendo crucial no contexto do assédio sexual. O estudo foi realizado no ambiente de trabalho da autarquia federal Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), resultando em uma amostra composta por 192 homens autodeclarados heterossexuais, que foram contatados pela internet e provenientes de todos os estados do Brasil. Trata-se de uma pesquisa de vinheta experimental numa abordagem quantitativa, caracterizada pela coleta de dados com o objetivo de testar hipóteses. O fenômeno investigado será o assédio sexual contra mulheres. O método escolhido para a realização do estudo foi o survey, elaborado com base na Escala de Desengajamento Moral no Assédio Sexual (EDMAS), composta por 32 questões em uma escala Likert de sete pontos, além de uma escala de julgamento moral elaborada pela pesquisadora. A EDMAS é um instrumento de autorrelato desenvolvido para avaliar os mecanismos de desengajamento moral no contexto do comportamento de assédio sexual cometido no ambiente de trabalho. Os itens da escala abrangem uma variedade de comportamentos sociosexuais, que mapeiam amplamente as categorias de assédio de gênero e assédio sexual, ambos fatores que contribuem para a criação de um ambiente de trabalho hostil. Em seguida, os participantes foram aleatoriamente expostos a uma vinheta hipotética de assédio sexual e realizaram um julgamento moral sobre o caso apresentado. Tanto a vinheta quanto as questões foram elaboradas pela pesquisadora com o objetivo de contemplar um julgamento moral do caso, permitindo correlacionar as respostas obtidas no survey com as do caso hipotético. Os dados foram coletados, estruturados, validados, correlacionados, analisados e interpretados, estabelecendo-se as similaridades a serem exploradas, de modo a definir os resultados e proceder com as discussões e conclusões deste trabalho. Os primeiros achados do trabalho, relacionados à validação da EDMAS, indicam altos níveis de consistência interna, demonstrando a confiabilidade da escala. As análises correlacionais também fornecem fortes evidências de validade de construção, tanto convergente quanto discriminante. Observou-se que, embora o Desengajamento Moral possua originalmente oito mecanismos distintos, em nosso estudo ele se comportou como um único constructo, caracterizando-se como uma escala unifatorial. Os achados sugerem que, quanto maior o nível de desengajamento moral, menos rigoroso é o julgamento moral de casos de assédio sexual. Isso indica uma tendência a minimizar ou justificar a gravidade desses episódios. No entanto, não foi encontrada uma relação significativa entre a gravidade do caso e a moderação do desengajamento moral no julgamento moral. Encontrou-se uma relação positiva moderada entre idade e desengajamento moral, sugerindo que indivíduos mais velhos tendem a apresentar maiores níveis de desengajamento moral. Na análise da correlação entre o exercício de função de chefia e a escala de desengajamento moral, encontrou-se uma correlação forte, indicando que, no INSS, os gestores apresentam um menor desengajamento moral. A média de Desengajamento Moral foi de 83,3. Como a EDMAS contém 32 questões, essa média corresponde a respostas entre 2 e 3 na escala Likert, que variam entre "discordo" e "discordo um pouco". Isso sugere uma baixa incidência de desengajamento moral na instituição. Para o Julgamento Moral dos casos, a média foi de 25,8. Considerando os 5 itens da escala, essa média indica respostas entre 5 e 6, que variam entre "concordo parcialmente" e "concordo", sugerindo um alto nível de julgamento moral. Especificamente, na questão que avaliava a moralidade da conduta do perpetrador de violência, a média foi de 5,85, indicando respostas entre "concordo parcialmente" e "concordo". Os resultados confirmam a hipótese de que o desengajamento moral está associado a um julgamento moral mais leniente dos casos de assédio sexual. Essa descoberta é consistente com a literatura existente sobre desengajamento moral, que sugere que pessoas com altos níveis de desengajamento moral são mais propensas a justificar ou minimizar comportamentos antiéticos. Além disso, a relação entre idade e desengajamento moral, bem como entre função de chefia e desengajamento moral, fornece insights valiosos sobre como fatores demográficos e de posição hierárquica influenciam atitudes em relação ao assédio sexual. Esses achados têm implicações importantes para o desenvolvimento de políticas e programas de treinamento no serviço público. Este trabalho apresenta limitações que abrem caminhos para pesquisas futuras. Primeiramente, o estudo aborda tema muito sensível, que dificilmente estão livres de vieses, que gera a ocultação das verdadeiras opiniões ou comportamentos. Além disso, as variáveis foram medidas por meio de autorrelato. Os achados deste estudo indicam que o serviço público pode utilizar esses conhecimentos para implementar novos programas de formação continuada para os servidores, focando na identificação e prevenção do assédio sexual e no fortalecimento da cultura ética organizacional. Pode se apropriar dos conhecimentos gerados por meio da escala de comportamento de assédio sexual para desenvolver intervenções eficazes, além de utilizar a própria escala. Estudos sobre desengajamento moral no contexto do assédio sexual em órgãos públicos têm o potencial de transformar as dinâmicas organizacionais, proteger as vítimas, melhorar a eficiência institucional, promover a justiça e contribuir para uma sociedade mais consciente e ética. Futuras pesquisas poderiam explorar a aplicação da EDMAS em diferentes contextos organizacionais e culturais, bem como investigar outras variáveis que possam moderar a relação entre desengajamento moral e julgamento moral. Estudos longitudinais também seriam valiosos para entender como o desengajamento moral pode evoluir ao longo do tempo e em resposta a intervenções específicas Na originalidade, apontamos que o estudo aborda um tema recorrente, mas que ainda é pouco explorado cientificamente. Além disso, a Escala de Desengajamento Moral no Comportamento de Assédio Sexual, que foi utilizada, não havia sido validada anteriormente na língua portuguesa. O estudo contribui para uma compreensão mais profunda dos mecanismos psicológicos que sustentam o assédio sexual no ambiente de trabalho. As implicações práticas dos achados sugerem que intervenções focadas na redução do desengajamento moral podem ser eficazes para promover uma cultura organizacional mais ética e respeitosa. Além disso, a validação da EDMAS em português amplia as ferramentas disponíveis para pesquisadores e profissionais que trabalham na prevenção e combate ao assédio sexual. Afinal, ele estava tentando ser amigável? É fundamental refletir! Ações que são interpretadas como "amigáveis" podem, muitas vezes, esconder dinâmicas complexas de assédio. Para entender adequadamente esse fenômeno, é necessário analisar o contexto do assédio sexual à luz do desengajamento moral. Nesse sentido, esta pesquisa responde à pergunta sobre como o nível de desengajamento moral afeta o julgamento moral dos participantes, além de explorar de que maneira a gravidade do caso pode moderar essa relação.
Título do Evento
Encontro Brasileiro de Administração Pública
Cidade do Evento
Ananindeua
Título dos Anais do Evento
Anais do Encontro Brasileiro de Administração Pública
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

BOZZI, Renata Freitas da Silva. “ELE SÓ ESTAVA TENTANDO SER AMIGÁVEL(?)" - DESENGAJAMENTO MORAL E SUA RELAÇÃO COM COMPORTAMENTOS DE ASSÉDIO SEXUAL.. In: Anais do Encontro Brasileiro de Administração Pública. Anais...Ananindeua(PA) Unama, 2025. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/encontro-brasileiro-administracao-publica/1061615-ELE-SO-ESTAVA-TENTANDO-SER-AMIGAVEL()---DESENGAJAMENTO-MORAL-E-SUA-RELACAO-COM-COMPORTAMENTOS-DE-ASSEDIO-SEXU. Acesso em: 25/07/2025

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